FIGURAS DE LINGUAGEM

01 - ALITERAÇÃO: Consiste na repetição ordenada de mesmos sons consonantais.

“Esperando, parada, pregada na pedra do porto.”

Como pode um peixe vivo viver fora d’água fria?

Ex: “(...) Vozes veladas, veludosas vozes,

Volúpias dos violões, vozes veladas

Vagam nos velhos vórtices velozes

 Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.”

                                  (fragmento de Violões que choram. Cruz e Souza)

02 - ASSONÂNCIA: Conformidade ou aproximação fonética entre as vogais tônicas de palavras diferentes. Semelhanças de sons.

“Sou um mulato nato no sentido lato
mulato democrático do litoral.”

Eu lido com o que é proibido, mas nem por isso fedo a carne podre da corrupção, nem tampouco o medo da ilegalidade.

“Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.” (Cecília Meireles)

03 - PARONOMÁSIA: Consiste na aproximação de palavras de sons parecidos, mas de significados distintos. “Eu que passo, penso e peço.”

As têmporas da maçã, as têmporas da hortelã, as têmporas da romã, as têmporas do tempo, o tempo temporã. (Murilo Mendes)

Melancolias, mercadorias espreitam-me. (Carlos Drummond de Andrade)

04 - ANTÍTESE: Consiste na aproximação de termos contrários, de palavras que se opõem pelo sentido.
“Os jardins têm vida e morte.”

Pensei que poderia esquecer, mas você me faz lembrar!

Quem matou monsenhor Romero? A injustiça o matou porque ele queria justiça. O ódio o matou porque ele queria o amor. A mentira o matou porque ele queria a verdade. (Jornal da Tarde)

Obs.: PARADOXO - Idéias contraditórias num só pensamento, proposição de Rocha Lima.

Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

                                                             (Luis de Camões)

05 - EUFEMISMO: Consiste em substituir uma expressão por outra menos brusca; em síntese, procura-se suavizar alguma afirmação desagradável.

Ele enriqueceu por meios ilícitos. (em vez de ele roubou)

Então, ele partiu dessa vida para uma melhor! (ao invés de dizer morreu ou faleceu)

06 - HIPÉRBOLE: Trata-se de exagerar uma idéia com finalidade enfática.

Estou morrendo de sede. (em vez de estou com muita sede)
Ontem te liguei um milhão de vezes!

“Mil utilidades: decoração, alimentação, vestuário, erotismo.”

Eles morreram de rir.

Já pedi silêncio mil vezes.

07 - PROSOPOPÉIA OU PERSONIFICAÇÃO: Consiste em atribuir a seres inanimados predicativos que são próprios de seres animados.

O jardim olhava as crianças sem dizer nada.

“A lua, (...) Pedia a cada estrela fria / Um brilho de aluguel...” (João Bosco / Aldir Blanc)

Sinto o canto da noite na boca do vento.

O leão conversava com os animais.

08 - APÓSTROFE: Consiste na interpelação enfática a alguém (ou alguma coisa personificada).

“Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!”

09 – ONOMATOPÉIA - Vocábulo que procura imitar determinados sons ou ruídos naturais. Não é uma reprodução fiel do som ou ruído, mas sua interpretação aproximada com os sons existentes em uma língua.

Ex: A língua do nhem “Havia uma velhinha / Que andava aborrecida / Pois dava a sua vida / Para falar com alguém. / E estava sempre em casa / A boa velhinha, / Resmungando sozinha: / Nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...” (Cecília Meireles)

Exemplos

Não conseguia dormir com o TIC-TAC do relógio da sala.

“Lá vem o vaqueiro pelos atalhos, tangendo as reses para os currais. Blem... blem... blem... cantam os chocalhos dos tristes bodes patriarcais. E os guizos finos das ovelhinhas ternas dím... dím... dím... E o sino da igreja velha: bão... bão... bão...”

10 - SINESTESIA: Trata-se de mesclar, numa expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido.

A luz crua da madrugada invadia meu quarto.

Naquele momento, sentiu um cheiro vermelho de ódio. (cheiro, olfato -vermelho, visão)

“Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo... - mais nada.”
                                  (Cecília Meireles)

ANTÍFONA (Fragmento)

“Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras

Formas do Amor, constelarmante puras,
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas ...

Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...”

                                                         (Cruz e Sousa)

11 - PLEONASMO: Consiste na repetição desnecessária de uma idéia.

A brisa matinal da manhã deixava-o satisfeito.

Vou descer lá para baixo para verificar se ele chegou.
Por um consenso geral, resolvemos mudar o horário do lanche.

12 - NEOLOGISMO: É a criação desnecessária de palavras.
Segundo Mário Prata, se adolescente é aquele que está entre a infância e a idade adulta, envelhescente é aquele que está entre a idade adulta e a velhice.

Quando a internet não ganha a competição, eventos atuais ou política tendem a dominar. Listados entre os indicados no site do grupo estão “Tea Party”, “Palinismos” ou “refudiate” (um “Palinismo”, neologismo de autoria de Sarah Palin). Folha de São Paulo, 14/01/2011

13 - ARCAÍSMO: Consiste na utilização de palavras que já caíram em desuso.
Vossa Mercê me permite falar? (em vez de você)

14 - ECO: Trata-se da repetição de palavras terminadas pelo mesmo som.

O menino repetente mente alegremente.

Ex: “(...) Vozes veladas, veludosas vozes,...

Ex: “Na messe que enloirece, estremece a Quermesse”. (Eugênio de Castro)

15 – ANÁFORA - Compreende a repetição de uma palavra ou segmento no início de frases, geralmente, de versos:

“O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem juízo...” (Chico Buarque de Holanda)

Ex: “Olha a voz que me resta

Olha a veia que salta  

Olha a gota que falta / Pro desfecho que falta /Por favor.” (Chico Buarque)

16 – METÁFORA - É uma comparação que se faz entre um sentido próprio e o figurado por existir uma relação de semelhança de significado entre eles:

“Eu sem você sou chama sem luz.” (V. de Moraes)

Ele é um anjo.
Ela uma flor.

Ex: A Amazônia é o pulmão do mundo. Encontrei a chave do problema.

“Veja bem, nosso caso  

É uma porta entreaberta.”

                           (Luís Gonzaga Junior)

“Meu pensamento é um rio subterrâneo.”

“Eu sou uma ilha longe de você”.

“Mariângela gostou dos sofás da Mobiliária Moderna e Benvenuto Cascadura gostou dos sofás de Mariângela. E de sofá em sofá, casaram-se. (José Cândido Carvalho)

“Nossa vida é um rascunho que jamais conseguimos passar a limpo.” (Mário da Silva Brito)

17 – METONÍMIA - Acontece quando uma palavra é utilizada para designar outra com a qual tem relação de proximidade. 

         Como a metáfora, consiste numa transposição de significado, ou seja, uma palavra que usualmente significa uma coisa passa a ser usada com outro significado. Todavia, a transposição de significados não é mais feita com base em traços de semelhança, como na metáfora. A metonímia explora sempre alguma relação lógica entre os termos. Observe:
Não tinha teto em que se abrigasse. (teto em lugar de casa)

Entrego meu problema em tuas mãos. (mãos, neste caso, indica a própria pessoa)
Ele gosta muito de Euclides da Cunha. (o autor substitui a obra) Ele gosta de ler Agatha Christie.
Ele comeu uma caixa de chocolate.
(Ele comeu o que estava dentro da caixa)
A velhice deve ser respeitada.
Pão para quem tem fome. (“Pão” no lugar de “alimento”)
Não tinha teto em que se abrigasse. (“Teto” em lugar de “casa”)

Ex: Ler Jorge Amado (autor pela obra - livro) / Ir ao barbeiro (o possuidor pelo possuído, ou vice-versa - barbearia) / Bebi dois copos de leite (continente pelo conteúdo - leite) / Ser o Cristo da turma. (indivíduo pala classe - culpado) / Completou dez primaveras (parte pelo todo - anos) / O brasileiro é malandro (sing. pelo plural - brasileiros) / Brilham os cristais (matéria pela obra – copos)
18 - CATACRESE – Ocorre quando, por falta de um termo específico para designar um conceito, torna-se outro por empréstimo. Entretanto, devido ao uso contínuo, não mais se percebe que ele está sendo empregado em sentido figurado.

O pé da mesa estava quebrado.
Sentou-se no braço da poltrona para descansar.
A asa da xícara quebrou-se.
O pé da mesa estava quebrado.
Vou colocar um fio de azeite na sopa.

Ponha um dente de alho naquela salada.

19 – HIPÉRBATO -  Alteração ou inversão da ordem direta dos termos na oração, ou das orações no período. São determinadas por ênfase e podem até gerar anacolutos.

Ex: Morreu o presidente, por: O presidente morreu.

Exemplo

“De tudo, ao meu amor serei atento antes” (ordem indireta ou inversa)

“Em vez de "Serei atento ao meu amor antes de tudo” (ordem direta)

“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heróico o brado retumbante”.

“As margens plácidas do Ipiranga ouviram de um povo heróico o brado retumbante”.

20 - GRADAÇÃO OU CLÍMAX -  Apresentação de idéias em progressão ascendente (clímax) ou descendente (anticlímax)

Ex: “Nada fazes, nada tramas, nada pensas que eu não saiba que eu não veja que eu não conheça perfeitamente.”

Exemplo

Os grandes projetos de colonização resultaram em pilhas de papéis velhos, restos de obras inacabadas, hectares de floresta devastada, milhares de famílias abandonadas à própria sorte.

 “Um coração chagado de desejos
Latejando, batendo, restrugindo.”

“Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.” (Gregório de Matos) 21 – IRONIA - Consiste em, aproveitando-se do contexto, utilizar palavras que devem ser compreendidas no sentido oposto do que aparentam transmitir. É um poderoso instrumento para o sarcasmo. A ironia consiste em dizer o contrário daquilo que está pensando.

Exemplo

Muito competente aquele candidato! Construiu viadutos que ligam nenhum lugar a lugar algum.

Meigamente

    O morro de São Carlos, no Rio de Janeiro, enviou um SOS à polícia carioca. O Morro não aguenta mais o show de violência promovido por três marginais conhecidos como Trio Ternura. O Trio Ternura mata, rouba, estupra, espanca, vende maconha e cobra um pedágio diário aos habitantes do Morro. Tudo com muito carinho e eficiência.     

                                                                                                                (Revista Visão)

                     

Comentário:

     Se compararmos o conteúdo da notícia com o título que o repórter lhe deu, concluiremos que a expressão do título conota exatamente o contrário do que o emissor pensa. A palavra foi utilizada com intenção sarcástica.

22 - ANTONOMÁSIA OU PERÍFRASE - Uso de um dos atributos de um ser ou coisa que servirá para indicá-lo.

Exemplos

Na floresta, todos sabem quem é o rei dos animais.
(rei dos animais = leão)

A cidade maravilhosa torce para um dia sediar os Jogos Olímpicos. (cidade maravilhosa  = Rio de Janeiro)

... os quatro rapazes de Liverpool (em vez de os Beatles)

A Veneza brasileira (Recife)

O poeta dos escravos (Castro Alves)

O Mártir da Inconfidência (Tiradentes)

23 - HIPÁLAGE - É uma figura de linguagem que se caracteriza pelo desajustamento entre a função gramatical e a função lógica das palavras, quanto à semântica, de forma a criar uma transposição de sentidos.
        Uma das formas mais frequentes consiste na atribuição, a um substantivo, de uma qualidade (adjetivo) que, em termos lógicos, pertence a outro.
          É um dos recursos estilísticos mais frequentes na obra de Paulo Coelho e Eça de Queirós (como em “Fumar um pensativo cigarro.” - claro que quem está pensativo é o fumante, subentendido na frase).

Exemplos

·         A vaca sonolenta me dava belos sonhos

·         Rasguei uma raivosa folha

·         Calçar as luvas nas mãos (em vez de calçar as mãos nas luvas)

·         Fumei um pensativo cigarro.

·         A moça dormia transparente (Chico Buarque)