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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Machado de Assis - ENEM


Machado de Assis – Realismo

         O Realismo no Brasil inicia-se com Memórias Póstumas de Brás Cubas em 1881. Machado de Assis pode ser comparado com José de Alencar, portanto é mais compromissado em retratar a realidade, tem um compromisso maior com o seu tempo do que o Alencar, em termos literários. Machado de Assis é gênio da raça, é a antena das vanguardas, é aquele que antecipou os procedimentos literários e artísticos que só os modernistas puderam fazer, só os gênios puderam fazer.


1.1         – Vida e Obra – O gênio que veio do morro

        Nascido no Morro do Livramento, Rio de Janeiro, filho de mulato em uma sociedade ainda escravocrata, paupérrimo, sofrendo de gagueira e epilepsia, nada indicaria que Joaquim Maria Machado de Assis teria, ao morrer em 1908, um enterro de estadista, seguido por milhares de admiradores pelas ruas da cidade em que nasceu, viveu e morreu. Autodidata, aos 15 começa a trabalhar em tipografias, onde conhece escritores importantes, como Manuel Antônio de Almeida.
       Em 1855 inicia sua carreira literária com a publicação de um poema na revista Marmota Fluminense. Consegue, logo depois, um emprego na secretaria da Fazenda. Trabalha a vida toda na burocracia, na qual iria galgando posições até ser ministro substituto. Mas a carreira burocrática é apenas uma forma de ganhar o sustento, ainda que humilde, que o possibilita escrever. Contribui com diversos jornais e revista e, com a publicação de seus livros de poesia, contos e romances, só vai ganhando em notoriedade e respeito.
Em 1869, casa-se, enfrentando grave preconceito racial da família, com a portuguesa Carolina Augusta Xavier Novais.
      Em 1876, antes mesmo de publicar a parcela de sua obra mais significativa, já é considerado, na companhia de José de Alencar, um dos maiores escritores brasileiros. Em 1881 inicia a publicação dos seus romances realistas. Em 1896 é um dos principais responsáveis pela fundação da Academia Brasileira de Letras, do qual é eleito o presidente vitalício. Em 1904 morre Carolina. Quatro anos depois, Machado de Assis, consagrado como o maior escritor brasileiro, é enterrado com pompa no Rio de Janeiro.          O mulato paupérrimo do Morro do Livramento torna-se um dos homens mais respeitados do país.
    Gênio da raça – antenas da vanguarda.

Polígrafo Inclassificável: escreveu em praticamente todos os gêneros de sua época: fez teatro, crônicas, contos, poesias, portanto é de rigor inclassificável, porque está acima da realidade do seu tempo, está acima do seu mundo.


1.2 - OBRAS

CRÔNICASsão relatos despretensiosos entre irônicos e jocosos do dia a dia carioca da segunda metade do século XIX. A imprensa carioca foi o sacerdócio de Machado. Passou pelas redações do correio mercantil do Rio de Janeiro, do Diário do Rio de Janeiro, da Gazeta de Notícias, de O Século. Suas crônicas vai do corriqueiro ao sublime, do cotidiano ao clássico, do pequeno ao grandiosos, do real ao imaginário.

CONTOSpara muitos, os contos machadianos superam os seus próprios romances que o consagrou. Pode-se dividir também os seus contos em duas fases: a primeira, dita “Romântica”,com livros: Contos Flumineses e Históricas da Meia Noite. A segunda, “Realista”, seus melhores contos: Papéis Avulsos, Histórias sem data, Várias Histórias e Relíquias da Casa Velha.

POESIA: em sua obra poética: Crisálidas, Falenas e Americanas, verifica-se sugestões românticas de fortes inspirações temáticas e formais da poesia de Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu e Fagundes Varela, tornou-se evidente a presença do lirismo sentimental, a poesia indianista e a natureza americana. Além disso, tem uma fase meio reflexiva parnasiana, reflexiva que é os ocidentais.


TEATRO: o teatro machadiano apresenta-se mais como contos dialogados que propriamente peças teatrais. Por causa do seu estilo primoroso, revela-se melhor quando lido, do que quando encenado.
São peças de valor literário relativo, são peças para serem lidas e não para serem representadas.
Quando você lê as peças sai todo aquele sabor maravilhoso, mas quando você as encena, aquela qualidade, aquela qualificação irônica que nós encontramos em Machado de Assis se perde.
         Machado de Assis foi um grande poeta, um razoável cronista, um razoável teatrólogo dramaturgo e foi um genial prosador. É na prosa que ele traz as características de um genial prosador, de um grande prosador. É na prosa que ele vai colaborar para melhoria da literatura ocidental.


a)      1ª Fase Romântica

Obras da Fase Romântica:

Romances: Helena A mão e a luva, Ressurreição e Iaiá Garcia.

Contos: Histórias da Meia Noite e Contos Fluminenses.

Poesias: Crisálidas, Falenas e Americanas.

       São consideradas “românticas” as primeiras obras de Machado de Assis: Ressurreição, A mão e a luva, Helena e Iaiá Garcia. Esta fase romântica de Machado de Assis, não são aqueles romances “babões”, é uma fase tradicional em que Machado de Assis submete as linhas gerais da literatura ocidental da metade do século XIX.
     Ressurreição, A mão e a luva, Helena e Iaiá Garcia, são 04 romances em que ele está se preparando, se moldando para dar um salto qualitativo. Segundo Alfredo Bosi, entre o último romance da 1ª fase e Memórias Póstumas de Brás Cubas que é o primeiro romance da 2ª fase, existe uma diferença abissal, um fosso abissal, portanto é nesse fosso é que temos esse salto de qualidade em Machado de Assis.
      É importante observar que essa classificação “romântica” é complicada e controvertida. Pois, não é nítida os moldes da ficção romântica: idealização das personagens, a tensão bem versus mal, herói versus vilão. Melhor ficaria designar de romances “convencionais”.


b)      2ª Fase Realista

Obras da Fase Realista:

Romances: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro,
 Esaú e Jacó, Memorial de Aires  

Poesia: Ocidentais.


Por que realista?
      
       Isso acontece devido a sua ironia, sua mordacidade, vai romper com aquela idealização romântica, “babona”, “açucarada” e “lipídica” do romantismo.
Ele é mais do que realista, ele é irônico, ele é aquele refinado psicologista que vai como um bruxo tentar dissecar a alma humana e a realidade do homem, então essa 2ª fase é realista e começa com Memórias Póstumas de Brás Cubas, que inaugura uma nova fase de sua obra bem como da literatura brasileira.

CARACTERÍSTICAS

a)    Ruptura com a narrativa linear

            Ele não se preocupa com a linearidade, ele começa do fim, volta para o início, ou seja, os fatos e as ações não seguem uma estrutura lógica ou cronológica. Aproxima-se do processo do impressionismo associativo, isto é, obedecem a uma ordem, a narrativa constrói-se à medida que aforam à consciência ou à memória do narrador.
            Ele é irônico com o leitor ao dialogar a respeito da leitura do seu livro ao dizer: caro leitor se você quer ler o meu livro para saber o final, não precisa eu conto o final para você, portanto você vai lê-lo pelo simples prazer de ler minhas Memórias Póstumas de Brás Cubas, meu Dom Casmurro, da maneira de como as coisas vão acontecendo, da maneira de como vão sendo apresentadas, os perfis psicológicos, as ações, não há grandes ações, devido as ações psicologias interiores é que realizam e trabalham essas dimensões.

b)    Organização metalingüística do discurso narrativo

         São as conversas com o leitor, ele para de escrever, Oh leitor amigo, o livro está chato, você está com sono, vamos parar por aqui, amanhã você volta a ler.
Ele discute o título do capítulo, o tamanho, a natureza de um capítulo no próprio livro, isso demonstra a grande capacidade crítica, a interação com o leitor.
       O narrador está sempre a interromper a narrativa para comentar com o leitor a própria estrutura do romance, fazendo-o até a participar de sua construção; bem como, para dialogar sobre uma personagem ou acontecimentos, para que o leitor possa refletir melhor sobre um episódio do enredo; ou até mesmo, teve suas digressões sobre os mais variados assuntos.


c)     A Ironia e o humor negro – livro pág. XII

         O humor negro (o famoso psicologismo), você ri de soslaio, aquele sorrisinho meio sem graça, aquela ironia refinada, aos moldes ingleses e franceses.


d)    Psicologismo

          Foi o grande psicólogo das máscaras sociais, o ser e o parecer, a essência e a aparência, aquilo que as pessoas são, aquilo que elas apresentar ser.
Ele começa sua narrativa em uma grande angular, depois vai fechando até flagrar três pessoas e dessas pessoas ele vai arrancar a máscara social, dois homens e uma mulher. Aquela mulher machadiana que faz “suquinho” de homem, “pastinha” de homem que chupa o cérebro do homem.
         O detalhismo e o microrrealismo estão na investigação e análise psicológica e caracterização das personagens.
         A ação e o enredo estão em segundo plano, são considerados somente na medida em que revelam o interior , os motivos profundos da ação.

e) Triângulos Amorosos

          O herói e o vilão, um apenas puxa o tapete do outro, são pares de uma mesma moeda.
Mulher
Vilão
Herói



Esse triângulo reproduzido em Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Virgília
Lobo Neves
Brás Cubas


Virgília: essa mulher Virginal, maravilhosa.

Lobo Neves: marido dela, Lobo em pele de cordeiro.


2º Romance: Quincas Borba
Sofia
Cristiano Palha
Rubião



3º Romance: Dom Casmurro

Capitu
Escobar
Bentinho


e)     Narrativa Lenta

        A ausência de ação somada à densidade psicológica torna a narrativa lenta. Deveras, é corrente a impressão dos adolescentes em relação à obra de Machado. Consideram os romances machadianos muito “parados” e “chatos” por suas interrupções na narrativa mas ler Machado está acima de um entretenimento barato e comercial. Ler Machado é como deliciar um bom vinho, que requer sensibilidade de um leitor maduro.


f)      Estilo “enxuto”

        Machado possui, por assim dizer, um estilo “britânico”, pois, Machado prima pelo equilíbrio, pela sobriedade, pela disciplina clássica, pela correção gramatical, pela concisão, pela economia vocabular. Produzindo uma literatura “enxuta” longe dos modismos que tendem ao exagerado uso de adjetivos e advérbios.


g)     Universalismo

        As obras de Machado de Assis são universais, pois estão além da linha do tempo e do espaço. São lidas desde sempre, ontem, hoje e eternamente. O universalismo está em concentrar o romance na análise psicológica e na reflexão filosófica. Por isso, a pobreza de descrição e a quase ausência de paisagens. Mesmo retratando a sociedade de sua época, Machado de Assis preocupa-se em buscar a essência humana; as convenções sociais e os impulsos interiores; a normalidade e a loucura; o acaso e os ciúmes, a irracionalidade, a usura, a crueldade.


h)    Os grandes Arquétipos

          Uma das fórmulas ficcionais em Machado é o aproveitamento dos arquétipos, que remontam a tradição clássica e aos textos bíblicos. (Arquétipo = modelo de seres criados; padrão exemplar, imagens psíquicas do inconsciente coletivo e que são o patrimônio coletivo de toda a humanidade). Assim o conflito dos gêmeos Pedro e Paulo, em Esaú e Jacó, remonta o arquétipo bíblico da rivalidade entre Caim e Abel; a psicose do ciúme de bentinho, em Dom Casmurro, aproxima-se do drama de Otelo e Desdêmona, de Shakespeare.


i)       Pessimismo

            A obra de Machado de Assis revela um desencanto da vida e do homem. Sua postura é mais que pessimista e negativista, é niilista (onde tudo tende / acaba ao nada); desnudar de suas vergonhas, o egoísmo e o interesse.
            “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”.


j)       Digressões

          São os vais e vens da memória – ele fica filosofando, viajando, ele obedece apenas os vais e vens da memória. A partir de um momento, no romance ele viaja, filosofa, depois ele volta, portanto ele obedece aos vais e vens da memória, o que ele lembra ele escreve, o que não lembra não escreve, mais tarde quando ele lembra ele escreve. Não há um compromisso com a linearidade narrativa, não há um compromisso com a cronologia rígida.

Textos

Texto I

Salões e mansões portuguesas

     “É, uma sala em quadro, toda ela de uma alvura deslumbrante; que realçam o azul celeste do tapete de rico recamado de estrelas e a beta cor de ouro das cortinas e do estofo dos móveis. A um lado duas estatuetas de bronze dourado representando o amor e a castidade, sustentam uma cúpula oval de forma ligeira, donde se desdobram até o pavimento bambolins de cassa finíssima. Doutro lado, há uma lareira, não de fogo, que o dispensa nosso ameno clima fluminense, ainda na maior força do inverno. Essa chaminé de mármore cor- de- rosa é meramente pretexto para o cantinho de conversação.¨
                                                                                                (José de Alencar- Senhora)

TEXTO II

     O quarto respirava todo um ar triste de desmazelo e boêmia. Fazia má impressão estar ali, o vômito de Amâncio secava-se no chão, azedando o ambiente,a louça que servira ao último jantar,ainda coberta de gordura coalhada,aparecia dentro de uma lata abominável,cheia de contusões e comida de ferrugem.Uma banquinha, encostada à parede,dizia com o seu frio aspecto desarranjado que alguém estivera ali a trabalhar durante a noite,até que se extinguira a vela,cujas últimas gotas de estearina se derramavam melancolicamente pelas bordas de um frasco vazio de xarope Larose, que lhe fizera vezes de um castiçal(...)¨
                             (Aloísio Azevedo-Casa de Pensão)


TEXTO III

Abane a cabeça, leitor (cap.XLV)

      Abane a cabeça, leitor, faça todos os gestos de incredulidade. Chegue a deitar fora este livro, se o tédio já não o obrigou a isso antes,tudo é possível.Mas,se o não fez antes e só agora,fio que torne a pegar do livro e que o abra na mesma página,sem crer para isso na veracidade do autor.Todavia,não há nada mais exato.Foi assim mesmo que Capitu falou,com tais palavras e maneiras.Falou do primeiro filho,como se fosse a primeira boneca.
      Quanto ao meu espanto,se também foi
grande,veio de mistura com uma sensação esquisita.Percorreu-me um fluído.Aquela ameaça de um primeiro filho,o primeiro filho de Capitu,o casamento dela com outro,portanto,a separação absoluta,a perda,a aniquilação,tudo isso produzia um tal efeito,que não achei palavra nem gesto,fiquei estúpido.Capitu sorria,eu via o primeiro filho brincando no chão...
                                 (Dom Casmurro, cit.p 95-99)

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