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domingo, 9 de outubro de 2011

Estudo sobre a Primeira e Segunda geraçôes - ENEM


Aula sobre a Primeira e Segunda gerações do Modernismo

 Características da Primeira Geração modernista

  • Sobretudo um movimento contra a invasão cultural
  • Espírito polêmico e destruidor: é preciso abandonar “uma arte artificial produzida a custa de imitação estrangeira” é necessário demolir “numa ordem social e política fictícia, colonial”.
  • Anarquismo: não sabemos discernir o que queremos, sabemos discernir o que não queremos.
  • Eleição do moderno como um valor em si mesmo
  • Busca da originalidade, a qualquer preço
  • Luta contra o tradicionalismo, contra o academicismo
  • Juízo de valores sobre a realidade de brasileiro.
  • Nacionalismo: revelação sobre os arquétipos brasileiros.
  • Paródia: ironia e corrosão da linguagem tradicional.

Neologismo

Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo
Teadoro, Teodora.
                                                          Manuel Bandeira
Meninas da Gare

Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha
                                                             Oswald de Andrade

Humor

Amor
Humor
            Oswald de Andrade



Características da Segunda Geração modernista

·         No início da década de 30 surge um grupo de poetas que por vários motivos e caminhos diversos prosseguiram os trabalhos dos primeiros modernistas especialmente o de Mário de Andrade.

·         A geração de 30 em relação a de 22 já tinha obtido ampla vitória com seu programa estético e se encontrava, portanto, no instante de se voltar para outro tipo de preocupação.
·         Nos anos 30 os quadros da burguesia, principalmente em direção às concepções esquerdizantes (denúncia dos males sociais, descrições do operário e do camponês).
·         O proletário (Jubiabá), do camponês (Vidas Secas) e o tradicionalismo de Gilberto Freyre.
·         A revolução de 30, com grande abertura que traz, propicia e pede o debate em torno da história nacional, da situação de vida do povo no campo e na cidade, do drama da seca.
·         Os poetas dessa geração têm uma preocupação menos nacional e mais universalizante.
·         Há temas ligados à fragmentação da vida contemporânea, a solidão, ao drama existencial.
·         A política, os problemas sociais, as angústias e desajustes humanos passam a ser assunto nos versos de Murilo Mendes, Jorge de Lima, Augusto Frederico Schmidt e Cecília Meireles, dará um cunho místico, esotérico e religioso a muitos de seus poemas.
·         Poemas cósmicos, filosóficos e bíblicos são contemporâneos de outros que chamam por justiça, paz e liberdade.
·         Essa fase apresenta poesias amorosas e surrealistas; versos harmônicos e melancólicos; desabafos e suspiros se misturam com versos panfletários, de denúncia e protesto, de solidariedade e união entre os homens.


AUTORES DA GERAÇÃO DE 30

POESIA (II – GERAÇÃO MODERNISTA)

·         Carlos Drummond de Andrade
·         Murilo Mendes
·         Jorge de Lima
·         Cecília Meireles
·         Vinícius de Moraes
·         Augusto Frederico Schmidt
·         Mário Quintana

PROSA (II – GERAÇÃO MODERNISTA)

Ciclo da cana-de-açúcar
·         José Lins do Rego

Ciclo da pecuária e da seca
·         Rachel de Queiroz
·         José Américo de Almeida
·         Graciliano Ramos

Ciclo do cacau
·         Jorge Amado

Ciclo sulino
·         Érico Veríssimo

Carlos Drummond de Andrade

Confidência Do Itabirano

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
                                                   Carlos Drummond de Andrade

Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos,
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
                                                                                      Carlos Drummond de Andrade

Procura Da Poesia

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
                                                                                          Carlos Drummond de Andrade


No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
                                                        Carlos Drummond Andrade
Era uma vez um czar naturalista
que caçava homens.
Quando lhe disseram que também se caçam borboletas e andorinhas,
ficou muito espantado
e achou uma barbaridade.
                                                                                Carlos Drummond de Andrade



O mundo é grande

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.
                                 (
Carlos Drummond de Andrade in “Amar se Aprende Amando”)
 
Cecília Meireles

Características

·         A sua temática central é a consciência da fugacidade do tempo.
·         Em sua poesia, os temas da melancolia, do desencanto, da renúncia, do adeus, da indiferença, da incompreensão humana, do silêncio, da solidão e da própria morte.
·         A vida é sempre encarada como sonho, num conflito entre o material e o espiritual.
·         Assinale-se, ainda, o recurso freqüente ao cromatismo e às aliterações, as sinestesias além da persistência do toque penumbrista e intimista, aliado à musicalidade fugidia dos versos, em ritmo de confidência, transmitindo esteticamente a sensação do tempo fugaz.
·         Encanta-se com as belezas do mundo, e se desespera diante da transitoriedade de tudo.
·         Outro aspecto de sua poesia é a linguagem sensorial, intuitiva e feminina, empregada em versos plenos num jogo hábil de sons e musicalidade.

Motivo
 

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.


Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.


Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.


Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
Retrato
 

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.


Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.


Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?
 
Canteiros
Quando penso em você
Fecho os olhos de saudade
Tenho tido muita coisa
Menos a felicidade
Correm os meus dedos longos
Em versos tristes que invento
Nem aquilo a que me entrego
Já me dá contentamento
Pode ser até manhã
Sendo claro, feito o dia
Mas nada do que me dizem me faz sentir alegria
Eu só queria ter do mato
Um gosto de framboesa
Pra correr entre os canteiros
E esconder minha tristeza
E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza ...
E deixemos de coisa, cuidemos da vida
Senão chega a morte
Ou coisa parecida
E nos arrasta moço
Sem ter visto a vida

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.  

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
cobre as areias desertas.  

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho dentro de um navio...  

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.  

Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

Vinícius de Moraes

·         Conhecidíssimo com alta qualidade poética, quebrou a barreira existente entre a poesia escrita e a composição cantada.
·         Esse exemplo acabou por criar grandes compositores poetas, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, e Djavan.
·         A mulher é o grande tema da poesia de Vinicius.
·         Além da poesia sensual, Vinicius também se interessou pela poesia social. O poema “Operário em construção” (1956) é o melhor exemplo dessa preocupação.
·         Vinicius de Moraes (1913 – 1980), que além de ter sido um dos mais famosos compositores da música popular brasileira e um dos fundadores, nos anos 50, do movimento musical Bossa Nova, foi também poeta significativo da segunda fase do modernismo.
·         Como poeta, Vinicius situa-se entre o grupo dos poetas religiosos que se formou no Rio de Janeiro entre os anos 30 e 40.
·         Quando publicou sua Antologia Poética, em 1955, Vinicius de Moraes advertiu que sua obra consistia em duas fases.
·         A primeira fase da poesia de Vinicius é marcada pela preocupação religiosa, pela angústia existencial diante da condição humana e pelo desejo de superar, por meio da transcendência mística, as sensações de pecado, culpa e desconsolo que a vida terrena lhe oferecia.
·         Os poemas dessa fase são geralmente longos, com versos igualmente longos, em linguagem abstrata, alegórica e declamatória.
·         Na sua segunda fase, a temática muda e ganha novas características universalizantes e sociais.


SONETO DA DEVOÇÃO

Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.

Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.

Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.

Essa mulher é um mundo! ? uma cadela
Talvez... ? mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!
                                            Vinicius de Moraes


SONETO DE FIDELIDADE

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
                                            Vinicius de Moraes

- A impossibilidade do instante presente, para que este seja infinitamente vivido. (Seja infinito enquanto dure).
- Esta é uma das mais belas composições conhecidas e apreciadas de Vinicius de Moraes.
- Observa-se ai a clareza e a concisão da linguagem, de características clássicas, em substituição a tendência para a alegoria e ao derramamento declamatório da fase inicial.
- O poeta neste poema (soneto) manifesta a sua angústia diante do mundo, revelando também seu sensualismo.
- O amor é tido como um elemento negativo que, ligando ao mundo terreno, impede a liberação do espírito.
- Nos seus sonetos apresenta uma linguagem clássica quinhentista.

Rosa de Hiroshima
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa, sem nada
                             Vinicius de Moraes

Soneto de separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
                                                    Vinícius de Moraes

Operário em Construção (Fragmento)

Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
                       Vinícius de Moraes


·         Por meio de uma linguagem simples e direta, quase didática, o poeta manifesta solidariedade às classes oprimidas, e almejam atingir a consciência daqueles que o lêem ou ouvem.

·         Na sua fase social a linguagem também tende à simplicidade: o verso livre passa a ser mais empregado, a comunicação torna-se mais dinâmica e direta.



                       Murilo Mendes
Características

v  Pertence a fase espiritualista ao lado de Jorge de Lima e Cecília Meireles.
v  A obra de Murilo Mendes apresenta os seguintes aspectos: aproveitamento da estética surrealista; cristianismo heterodoxo; humor corrosivo; exuberante sensualidade.
v  Observa-se influências recebidas dos poetas da primeira geração como: Mário de Andrade, Oswald de Andrade.

v  Murilo Mendes faz uma poesia malandra modernista, não deixa de apontar os defeitos, os jeitinhos, a mania brasileira de jogar no bicho papão e deixar com que os políticos continuem a se banquetearem com nossos valores.

Quinze de novembro

Deodoro todo nos trinques
bate na porta de Dão Pedro Segundo.
– Seu imperadô, dê o fora
que nós queremos tomar conta desta bugiganga.
Mande vir os músicos.
O imperador bocejando responde
– Pois não meus filhos não se vexem
me deixem calçar as chinelas
podem entrar à vontade:
só peço que não me bulam nas obras completas de Vítor Hugo.
                                                                                         Murilo Mendes

Canção do exílio

Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
                                                             Murilo Mendes
Homo Brasiliensis

O homem
É o único animal que joga no bicho.




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